domingo, 22 de novembro de 2020

Falas Negras

Título Original:
  Falas Negras
Direção: Lázaro Ramos
Ano de Lançamento: 2020
Duração: Aproximadamente 55 minutos
Gênero: Baseado em fatos reais, documentário.

Sinopse:
O especial "Falas Negras" traz 22 depoimentos reais de pessoas como Mandela, Martin Luther King e Marielle Franco, que lutaram contra o racismo e pela liberdade, a favor da justiça.

Resenha:
No dia 20 de novembro, o Dia Nacional da Consciência Negra, o canal Globo exibiu um especial nomeado "Falas Negras". Já disponível no streaming Globo Play, o programa conta com 22 depoimentos reais de pessoas que lutaram pela liberdade e justiça das pessoas negras. O projeto, idealizado por Manuela Dias e dirigido por Lázaro Ramos, traz monólogos teatrais, organizados em uma extensa linha do tempo de 1600 até os dias de hoje.

A obra inicia em 1626 com a fala da Rainha Nzinga Mbamde, relatando a luta pela independência e liberdade das terras dos seus pais e avós. A partir daí é possível acompanhar o período de escravidão, marcados por inconcebíveis condições de vida e o sonho de ser livre. Dentro de cada depoimento há diferentes tipos de cenários: os homens e mulheres que morreram na confinação do navio negreiro, aqueles negros que já não suportavam mais a escravidão e preferiam a morte, os "rebeldes" que fugiam para se tornar livres, os revolucionários relatando os planos de ataque, etc. Seguindo a demarcação temporal, ganha espaço também a voz de diversas figuras abolicionistas.

"Quem vier até aqui, tentar nos reduzir a escravidão, vai ter diante dos olhos a imagem do inferno que merecem."


"Todo grande sonho começa com um sonhador."

Com o passar das cenas e das personalidades que vão ganhando destaque, há as vivências preconceituosas que visivelmente atravessam os séculos. Mesmo quando o negro começam a ganhar um espaço no mundo eles são segregados, deixando claro a forma com que o racismo foi mais estruturado ao longo do tempo. Assim, há a falas de diversos ativistas e defensores dos direitos civis que narram suas trajetórias e a busca pela real liberdade. Rosa Parks, Nelson Mandela, Milton Santos, Malcom X, Nina Simone... essas são algumas pessoas importantes que tem seus discursos abordados neste contexto.

"O que estão vendo, diante de si agora, é o resultado de tudo o que foi feito continuamente para nos tornar menos humanos."


"Quanto mais a gente cede, mais a gente aceita esse tipo de tratamento, mais opressivo ele se torna." 

Partindo para o momento mais atual há o depoimento de Marielle Franco em 2017, contando um pouco de sua trajetória e de sua constante luta pelo direito a vida humana. O ano de 2020 chega com a dolorosa fala aos prantos de Neilton Pinto, pai de João Pedro, e de Mirtes Santana, mãe do pequeno Miguel; ambos que perderam seus filhos para a violência e o descaso com as vidas negras. Para finalizar há a incrível fala atual, de uma protestante, que retrata a realidade desgastante de mortes da população negra.


Todos esses personagens reais, foram interpretados por atores que deram um emocionante e verdadeiro espetáculo. O elenco reuniu: Aline Deluna, Aílton Graça, Angelo Flavio, Barbara Reis, Babu Santana, Bukassa Kabengele, Fabrício Boliveira, Flávio Bauraqui, Guilherme Silva, Heloísa Jorge, Ivy Souza, Izak Dahora, Mariana Nunes, Naruna Costa, Olívia Araújo, Reinaldo Junior, Samuel Melo, Silvio Guindane, Taís Araujo, Tatiana Tibúrcio, Tulanih Pereira e Valdineia Soriano. Todos eles, junto com a produção e o aspecto audiovisual, entraram na personalidade e trouxeram representatividade ao público.

É preciso aplaudir também e parabenizar a escolha e montagem para a trilha sonora de abertura, que reafirma toda a mensagem e a força transmitida pela obra. A seleção de imagens reais, feitas no Brasil e ao redor do mundo, trazendo ainda mais visibilidade para a causa. Todo o conteúdo faz uma reflexão do passado até os dias atuais, deixando clara a intenção de conscientizar.

A segregação racial, a intolerância, o preconceito e o racismo existem, isso é um fato e não vitimismo. A luta pela liberdade, pela dignidade e pela humanidade não terminou com o período de escravidão, a necessidade dessas conquistas só ficas mais fortes nos dias de hoje. Até quando será preciso que o povo negro lute pela sobrevivência?

"Nós não somos  responsáveis pela doença mental infligida ao nosso povo pelas pessoas que estão no poder! Negros estão morrendo em estado de emergência! Já chega! Já chega!"

De modo geral este especial dá voz a pessoa negra, desde aqueles popularmente conhecidos até aqueles menos populares. É ensinado sobre a história do povo negro, seja do mundo e também do próprio Brasil. Por fim alcança o objetivo de fazer uma crítica social, onde o telespectador é convidado a refletir sobre tais realidades e adquirir novas aprendizagens.

Já em uma perspectiva pessoal... Eu, como mulher negra, aprendi mais sobre a trajetória das minhas descendência. Não consegui segurar as lágrimas com o quanto me vi representada em muitas falas e me emocionei em assistir retratar o quão dolorosa é a nossa realidade. Mais do que nunca temos que nos unir por essa luta, a luta pela vida digna de TODOS.

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