terça-feira, 28 de abril de 2020

Especial lendo Paulo Freire

Especial lendo Paulo Freire



Paulo Freire é alvo de muitas críticas até hoje, mas dedicou grande parte da sua vida na luta por uma educação de qualidade para todos. Não é por menos que o pensador é o Patrono da Educação, então suas obras precisam ser refletidas e valorizadas assim como é feito em todo o mundo. Seus pensamentos não se restringe aos professores, o tema Educação é para todos. Somos todos educadores.

A polêmica central sobre o autor é dizer que ele é pensador de uma ideologia política e não há negação de que suas obras tenham cunho político. Afinal, Paulo Freire afirma que educar é um ato político: as formações das escolas são consequências políticas, currículo é política, didática é política. Não há neutralidade na Educação se quem a rege, primariamente, são os partidos políticos e, secundariamente, se é um exercício feito por seres humanos, cada qual com seus ideais. Entretanto, não podemos dizer que estamos sendo manipulados o tempo todo, mas os interesses daqueles que pensam e fazem a Educação estão em constante disputa por esse espaço. Nessa encruzilhada, Paulo Freire nos indica um caminho:
"É que, na verdade, o contrário da manipulação nem é neutralidade impossível nem o espontaneísmo. O contrário da manipulação, como do espontaneísmo, é a participação crítica e democrática dos educandos no ato de conhecimento de que são também sujeitos."
Aqui selecionamos três obras famosas do autor e esboçamos alguns conceitos dele para ajudar a entender o que é a educação libertadora e crítica. Esperamos que apreciem a leitura.


- Pedagogia do oprimido.



Editora: Paz e Terra (Grupo Editorial Record)

Ano: 2019

Pedagogia do Oprimido é o trabalho mais conhecido do educador Paulo Freire. A obra questiona o valor de uma sociedade baseada na opressão e a qualidade de uma educação que reflete tal modelo social. Nesta perspectiva é que surge a proposta de uma educação para a liberdade, sendo alcançada através do desenvolvimento do pensamento crítico e libertário. O livro é dividido em apenas quatro capítulos, mas possui uma leitura árdua devido a todos os conceitos apresentados e devidamente explorados. 

Freire compreende que o ser humano é inacabado e por esse motivo está constantemente em processo de humanização, sendo um sujeito da própria história e da sociedade. No entanto o autor reconhece que há uma relação de poder social que, por consequência, gera um vínculo de opressão. Desta maneira o primeiro capítulo explora ainda mais a relação entre o opressor e o oprimido, apontando que a imposição do opressor se exerce de tal forma que afeta a humanidade do oprimido e ocorre a desumanização.

No capítulo II é abordado a Educação Bancária que se caracteriza como mais um modelo de opressão, uma vez que os alunos são mero depósitos de conhecimentos limitados. Os conteúdos são impostos sem que haja  um debate ou uma troca de ideias, limitando-os a um pensar mecânico e sem quaisquer conexão com as realidades que os rodeiam. Tal concepção serve a dominação ao acreditar que os educandos não passam de recipientes vazios, precisando ser preenchidos unicamente pelo detentor do saber: o professor.

O terceiro capítulo se opõe ao método bancário e traz a dialogicidade como prática da liberdade, ou seja o diálogo como uma forma de libertar os oprimidos de sua condição de opressão. Para isso é ressaltado a importância de se pesquisar temas geradores que façam parte do contexto social dos sujeitos que serão ensinados, assim é apresentado a troca de experiências para a construção de novos saberes e nova visão que transforme a realidade. Esta educação identifica diferentes leituras de mundo e é pautada na comunicação faz com que o educando: adquira com mais rapidez uma aprendizagem significativa; desenvolva reflexões críticas sobre diferentes contextos; manifesta mais opiniões/ideias; e busque ações transformadoras.

Já o capítulo IV refere-se a Teoria da Ação Antidialógica, um sistema opressor que busca apenas dominar. Para que tal dominação ocorra Freire aponta que é necessário a conquista (de um sujeito e um objeto), a divisão das massas, a manipulação das massas (tanto das oprimidas quanto das dominantes) e a invasão cultural (para impor sua visão de mundo). Todos esses elementos segue direção oposta a colaboração, união, organização e síntese cultural proposta pela ação dialógica.


 - Pedagogia da autonomia.

Editora: Paz e Terra (Grupo Editorial Record)
Ano: 2017


Nesta obra, Freire propõe reflexões importantes relacionada a formação dos docentes e dos educandos e o trabalho docente dentro e fora de sala. Propondo pensar sobre o processo de ensino e aprendizagem, o autor analisa a importância de um educador democrático e pesquisador, no sentido dele fazer e pensar sobre o fazer docente, buscando uma formação permanente e uma reflexão critica sobre sua prática. Um livro que levanta reflexões muito atuais e que precisam ser debatidas nesse período em que professores repensam formas de transmitir o conteúdo para os alunos online.

Nessas condições, é perceptível que a educação no modo tradicional não funciona, e é preciso como Freire salienta nesse livro, repensar o modo de se construir o ensino e a aprendizagem, encarando o conhecimento como uma construção por meio da relação entre alunos e professores e não apenas como algo imposto sem contexto e sem considerar as múltiplas realidades presentes em sala. Vale destacar que Freire demostra que o papel dos alunos é fundamental na formação dos docentes.

"Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender."
Com isso, é importante considerar o ensino como um processo que precisa envolver os alunos e considerar o trabalho docente, dando liberdade para o mesmo de planejar suas aulas. Rompendo com a educação bancária, o livro propõe a importância de uma educação libertadora, capaz de considerar as realidades presentes em sala e levando alunos e professores a se tornarem seres críticos, criativos e livres. A ideia em questão é formar alunos que estejam dispostos a questionar e a mudar o mundo, não a se moldar e se conformar com o que lhes são impostos sem reflexão. Nesse sentido, vale destacar que não há formas do professor ser neutro nesse processo, a prática docente por si só exige uma tomada de posição, de decisão e de ruptura.
"Sou professor a favor da luta constante contra qualquer forma de discriminação, contra dominação econômica dos indivíduos os das classes sociais. Sou professo contra a ordem capitalista vigente que inventou esta aberração: a miséria na fartura. Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo."

 - A importância do ato de ler.

Editora: Editora Cortez
Ano: 2003

Esse pequeno livro é a reunião de três artigos que se complementam. Uma leitura bem fácil, com mais exemplos práticos do que teóricos e fazendo-nos entender um pouco mais de cada conceito aqui exposto. Contudo, o eixo norteador é o ato de ler.

Talvez já tenha lido esta frase de Paulo Freire: "A leitura do mundo precede a leitura da palavra". Mas o que isso significa? Que antes mesmo de aprendermos a ler palavras, aprendemos a interpretar as coisas ao nosso redor, o nosso contexto, nosso bairro... Lemos as árvores quando mudam de estações, lemos emoções, lemos as coisas que acontecem.

Preceder a leitura da palavra não quer dizer que é um mecanismo utilizado para quem não sabe codificar e decodificar, mas a leitura do mundo é o que dá significado às letras. Ambas leituras devem andar juntas para um processo de alfabetização significativo: ato da leitura da "palavramundo". Reconhecer as leituras de mundo é reconhecer que os sujeitos da alfabetização não são seres vazios que esperam ser enchidos pelos professores, mas como seres que carregam suas histórias e conhecimentos.

No terceiro artigo temos a parte mais enriquecedora: a transcrição e comentários dos Caderno de Cultura Popular criados para a Educação de Jovens e Adultos no período pós colonialismo de São Tomé e Príncipe, em que Paulo Freire foi assessor na área de Educação. Esse material didático de alfabetização e pós alfabetização nos mostra uma prática do pensamento freiriano dentro de um contexto específico. Afinal, a contextualização é o ponto de partida da incorporação a leitura de mundo com a da palavra.

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