domingo, 15 de dezembro de 2019

Especial para ler Jane Austen

Especial para ler Jane Austen



Oi galera! Esse artigo é um especial em homenagem a aniversariante de amanhã: Jane Austen.
Eu decidi escrever isso por causa de uma experiencia que tive num grupo de leitura coletiva, onde vi muitas pessoas interessadas em ler alguma obra de Jane Austen, mas que sentiam algumas dificuldades na leitura. No meio da discussão do livro escolhido, fiz alguns apontamentos e análises que ajudaram na compreensão das leitoras. Adoro esse interesse, principalmente de quem lê romance de época, em querer ler alguns clássicos. Como Jane Austen é bastante citada em alguns livros, acho que se faz necessário conversarmos um pouco mais sobre suas obras para que ninguém vá com uma expectativa irreal e se decepcione.

Longe de mim bancar a especialista! Não estou nem perto de ser! (Queria muito ser) Tudo o que vou colocar aqui, brevemente, é uma mistura de informações de artigos escritos pelos reais especialistas.

Espero que gostem e que vocês tenham vontade de ler as obras dessa autora que é minha musa.

1- Jane Austen não escreve romance de época.

Jane Austen é uma romancista de seu tempo, escrevendo sobre sua própria época, portanto, ela é contemporânea de seu tempo. O que também torna dela uma literatura clássica. A literatura do período regencial inglês é completamente diferente de um romance de época regencial. Tanto em estilo quanto na forma que os assuntos são abordados, mantendo somente as mesmas referências histórico-culturais do tempo e lugar.

Outro fator que os leitores de romance de época estranham é que os acontecimentos correm mais lentamente. Bem, a ideia de tempo naquela época é bem diferente da que temos hoje e isso influencia na escrita dos autores. Hoje, o tempo vale muito mais dinheiro do que antes, nossos hábitos de consumo são maiores e precisamos de coisas que sejam mais fugazes. O romance de época é uma literatura de consumo com maior agilidade, permitindo a licença autoral para criar ficções mais empolgantes do que o cotidiano da virada do século XVIII.

2- Histórias que não somente são sobre um casal.

Somos muito acostumados a ler livros sobre a construção do relacionamento entre dois personagens e uma das críticas apontadas na discussão da leitura coletiva foi a falta de cenas entre os protagonistas e o enorme número de personagens secundários.

As adaptações cinematográficas dos livros de Jane Austen também não fazem muito para desfazer a impressão de que o foco é no casal. Ver Orgulho e Preconceito de 2005 e ler o livro é uma disparidade enorme! (Não que o filme não seja bom, eu amo e acho genial.)

A questão é que, para além de um relacionamento, o foco dos livros é na construção pessoal da heroína. Para isso acontecer, é necessário que ela se socialize com outras pessoas além do herói. As várias pessoas que fazem parte da jornada da personagem irão ajudá-la a trilhar seu caminho, mudar suas opiniões, ser mais crítica e sábia... Todos os personagens que aparecem têm alguma importância na trama. Não é necessário que se lembre de cada um deles! Às vezes até é bom anotar em algum lugar quem são os personagens e suas características. Meu método: toda leitura eu minha mente me leva a prestar mais atenção em alguns personagem que me passam despercebido.

3 - Tudo termina em casamento, mas é mais profundo que isso.

Sim, tudo acaba em casamento. Isso é uma marca da autora. Também não significa que é um felizes para sempre, mas que aquela jornada acabou e outra começa. O que está meio escondido por entre as linhas de todo o livro são profundas críticas sociais. Nada extremamente polêmico como religião e política, Jane Austen foi uma grande observadora dos comportamentos sociais.

Ainda sobre os vários personagens secundários, Otto Maria Carpeaux, grande historiador literário, compara Jane Austen com Willian Shakespeare ("Shakespeare de saias") por conta da profundidade psicológica criada para os personagens. Todos eles são extremamente bem pensados, em suas posições sociais, em suas ações, em suas falas. É nesse ponto que são feitas críticas sociais.

Vemos muitos personagens que são falsos, orgulhosos, mesquinhos, submissos às pessoas de classe superior à sua, muito influenciados, manipuladores, de coração bondoso, preconceituosos, sarcásticos, queixosos com suas vidas... É muito interessante notar essas relações sociais.

4 - A importância de suas obras.

Apesar de ter afirmado que Jane Austen é contemporânea da virada do século XVIII, eu também sou defensora de que ela também é nossa contemporânea. Estou falando disso numa perspectiva mais filosófica, analisando o que significa ser contemporâneo. Acredito que seja tudo aquilo que tange o presente, transcendendo o tempo e espaço de produção. O que torna as obras de Jane Austen tão contemporâneas é o fato das relações socias não terem mudado. Todos os casos e todas as tramas podem ser facilmente comparadas com o nosso cotidiano. Não é à toa que se produzem tantas adaptações de Jane Austen que se passam no tempo atual, como: As patricinhas de Beverly Hills, Noiva e Preconceito (Bollywood), The Lizzie Bennet Diaries (web série), Material Girls, O diário de Bridget Jones, entre muuuitos outros.

Se as obras de Jane Austen são consideradas clássicas, é porque as pessoas nunca deixaram de ler e comentar os livros. A leitura de um clássico é sempre um movimento de uma releitura, pois aquilo que é clássico vemos sempre em nosso dia a dia e, mais importante, nunca se mantém. A cada releitura absorvemos coisas que fugiram de nossa percepção, cada leitura é diferente.

Não é porque você viu o filme que você já sabe o que acontece no livro, e nem que você tenha lido o livro, sabe o que aconteceu no filme. É importante que se leia os dois, filme e livro, para que a experiência de leitura seja bem rica.

Espero que isso ajude um pouco na compreensão, não só da leitura dos livros de Jane Austen, mas nos clássicos em geral. Já leram algum livro dela? O que acharam? Tem vontade de ler? Sintam a vontade para interagir aqui!

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