Tudo na sua vida a faz constantemente lembrar o quanto é diferente das outras garotas, desde o seu nome até o banheiro masculino que é obrigada a usar na escola. George só tinha liberdade pra ser ela mesma quando a casa estava vazia e podia se trancar no banheiro, onde finalmente teria a possibilidade de folhear as revistas teens que ficam escondidas em uma bolsa no seu guarda-roupa e se imaginar sendo amiga das meninas fotografadas nas revistas. Apenas nesses momentos ela perdia seus medos e aflições, mas George já está pronta para ser finalmente livre e contar para a família e melhor amiga que é uma garota.
A oportunidade perfeita surge com a peça da escola, onde a turma irá apresentar a obra clássica "A menina e o porquinho". George não poderia ficar mais feliz, afinal ela ama essa história e está decidida em conquistar o papel da aranha Charlotte. No entanto esta personagem está sendo concorrida por várias garotas da turma e a maioria não consegue compreender a escolha de George, mesmo que ela seja tão incrível na interpretação.
Com uma escrita simples e fluída o enredo envolve o leitor logo de primeira, tornando fácil finalizar a leitura em pouquíssimas horas. A narração feita por George deixa visível que o livro é direcionado ao público infantil, mas a riqueza que é essa obra deveria alcançar TODOS os públicos. De um modo delicado e realista, os capítulos trazem representatividade ao apresentar as vivências e os desafios de uma criança transgênero.
A protagonista do livro é de uma doçura infinita, tão meiga e adorável que tudo o que eu desejava era protegê-la de toda maldade desse mundo. Os personagens secundários também merecem o devido destaque devido a grande importância que ganham na obra, principalmente a melhor amiga Kelly que é a primeira a compreender e ajudar George. Já nos laços familiares há a amável mãe de George, que apesar de desejar o bem da criança se mostra mais resistente para encarar a realidade da filha. Por outro lado há Scott, o irmão mais velho, que tem um companheirismo lindo com o irmão e quebra o estereótipo de "irmão malvado" que há em muitos livros do gênero.
Infelizmente, a sociedade é construída com base em uma hierarquia e boa parte da população humana sofre com a exclusão quando considerado diferente. George não fica livre dessa exclusão e da não aceitação de várias pessoas que a rodeiam, nesse contexto há sim aqueles personagens que aparecem para abordar esta triste realidade. Nesse ponto a simplicidade da escrita impossibilita a profundidade das reflexões que poderia ter sido feitas, apesar de ser compreensível devido a leveza que toda a obra carrega.
A parte pedagoga em mim se aperta quando acompanha metade do enredo se passar no âmbito escolar, se contorcendo com os pontos negativos que se tornam claros em algumas atitudes e também com os positivos que sobressaem de modo sutil.
Diante de tudo o que é retratado no livro, fica impossível negar o quão valiosa é essa obra e o quanto ela é necessária para contribuir no processo de conscientização da população em geral. Outra importância que a leitura carrega é a visibilidade e representatividade transgênero, sendo tão rara quando o protagonismo é de uma criança. "George" é um livro que deve ser recomendado a todos públicos, acredito que muitos também precisem se colocar na perspectiva da personagem.
Este já é um dos meus livros favoritos... E vocês, já embarcaram nessa leitura?
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